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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Desabafos da República

No centenário da República não podia deixar passar esta marca que é tão influente na nossa vida quotidiana, ou não.

Um texto que fiz para o jornal da escola (uhh andas a evoluir - "Esalpicos" no futuro
"Dica da Semana", o céu é o limite):

“Manso é a tua tia pá”, o que eu aturo. Tenho 100 anos e cada vez mais se esquecem que estou a olhar por eles.

Um olho para ver, outro para ser visto. Mas não, entretidos a discutir o “Portugal dos Pec-nitos”, vão para outro espaço que não abrange os meus princípios.

Houve tempos em que me fartei disto. Consegui um fim de semana de férias e fui até ao Rio de Janeiro, foi lá que conheci a moda do topless. Depois não quis outra coisa eheh.(se bem que alguns mais pudicos insistam em me tapar). Mas voltei, Portugal não consegue viver sem mim, sou uma estrela. Férias agora? Vou as cadelinhas à Costa e pouco mais.

O Cristo Rei telefonou-me. Na palheta com ele é que comecei a ver que já estou velha para isto. Dói-me a cabeça, já viram o que é aturar aquela gente todos os dias? O problema é que alguns vão para ali com se fossem para o café.

Mas antes é que era bom, até “palhaço” chamavam uns aos outros. Parece uma tourada autêntica, um já se lembrou de fazer “corninhos”, só falta mesmo irem a correr e fazer uma pega de caras.

E quem pensa que há assuntos restritos na Assembleia da República anda muito enganado, até do “truca-truca” se falou há uns anos. Decorria o ano de 1982, debatia-se a interrupção voluntária da gravidez, quando Natália Correia em resposta a ao deputado João Morgado, que disse que «O acto sexual é para ter filhos», proferiu o seguinte poema: “Já que o coito, diz Morgado/ tem como fim cristalino/ preciso e imaculado/ fazer menina ou menino/ e cada vez que o varão/ sexual petisco manduca/ temos na procriação/ prova de que houve truca-truca/ sendo só pai de um rebento/ lógica é a conclusão/ de que o viril instrumento/ só usou parca ração! - uma vez/ E se a função faz o órgão – diz o ditado/ consumada essa excepção/ ficou capado o Morgado.” Isto é que eu gosto, já que há debate, que haja criatividade!

Sabiam que existe um manual do deputado? É um género de manual de instruções em que diz o que se pode e não se pode fazer na Assembleia. Mas como todo o Zé Povinho, ninguém quer saber daquilo e depois os resultados estão à vista.

Do palácio de S.Bento, não me posso queixar. Tenho tudo, restaurantes, bar, banco e até uma agência de viagens! Pergunta óbvia, para quê uma agência de viagens numa assembleia? Será que tem descontos para paraísos fiscais? Mwahah, Sou mesmo mazinha.

Vou tratar de vida, amanhã lá volto à minha rotina, a ver os senhores deputados agredirem-se verbalmente com metáforas muito giras e com ironias muito apuradas e simpáticas.
Mas será que este país podia ir para a frente sem este ambiente fofo na Assembleia da Republica?

Podia, mas não era a mesma coisa…

in Esalpicos de junho de 2010

Bem, vou aviar uma vida

Rui Freire